No post anterior sobre desvios e não conformidades, exploramos os conceitos básicos e quando um registro formal é necessário para a longevidade do Sistema de Gestão da Qualidade. Agora, vamos aprofundar no processo completo de tratamento de não conformidades, desde o registro até a verificação da eficácia das ações.
O Ciclo Completo de Tratamento de Não Conformidades no SGQ
O tratamento eficaz de uma não conformidade segue um ciclo estruturado que transforma problemas em oportunidades reais de melhoria. Vamos explorar cada etapa desse processo:
1. Registro Detalhado da Não Conformidade
O primeiro passo após identificar um desvio que necessita tratamento formal é documentá-lo adequadamente. Um registro eficaz de não conformidade deve conter:
- Identificação única: Código, data e processo/área onde foi detectado
- Descrição objetiva: Detalhamento claro do que ocorreu e como foi detectado
- Evidências concretas: Fotos, documentos ou registros que comprovem o desvio
- Requisito não atendido: Procedimento ou especificação que não foi seguido
- Classificação de gravidade: Leve, média ou grave conforme critérios estabelecidos
💡 Dica prática: Ao registrar não conformidades, mantenha o foco nos fatos observáveis, não em interpretações subjetivas.

2. Implementação de Ação Imediata para Correção
Antes da análise profunda, normalmente é necessário implementar uma ação imediata para:
- Conter o problema imediatamente
- Minimizar impactos em clientes ou processos relacionados
- Restabelecer a conformidade no curto prazo
Esta etapa responde à pergunta: “O que precisamos fazer nesse momento para resolver este problema?”
3. Análise Aprofundada de Causa Raiz
Esta é a etapa mais crítica no tratamento de não conformidades, pois sem identificar a verdadeira causa, qualquer solução será apenas temporária.
Métodos eficazes para análise de causa raiz:
- Técnica dos 5 Porquês: Método simples de perguntar “por quê” sucessivamente para aprofundar a análise.
- Diagrama de Ishikawa: Análise visual que categoriza causas potenciais em grupos como:
- Pessoas (treinamento, competências)
- Método (procedimentos, instruções)
- Máquinas (equipamentos, sistemas)
- Materiais (insumos, componentes)
- Medições (indicadores, controles)
- Meio ambiente (condições de trabalho)
💡 Dica importante para análise de causa raiz: Evite concluir que a causa foi simplesmente “erro humano” ou “falta de atenção”. Estes são sintomas, não causas. Sempre pergunte: “Por que a pessoa cometeu esse erro?” ou “O que no sistema permitiu esse erro?”.
4. Planejamento Estratégico de Ações Corretivas
Com a causa raiz identificada, é hora de planejar ações corretivas que impedirão a recorrência do problema:
- Defina ações específicas: Estabeleça claramente o que será feito, evitando termos vagos
- Atribua responsabilidades claras: Determine quem executará e quem validará cada ação
- Estabeleça prazos realistas: Considerando complexidade e recursos disponíveis
- Preveja recursos necessários: Tempo, orçamento, pessoal, materiais
- Priorize ações críticas: Comece pelo que terá maior impacto na solução
Para que o processo seja eficiente, é fundamental entender a diferença entre correção (etapa 2) e ação corretiva (etapa 4):
- Correção: Resolve o problema específico encontrado
- Ação corretiva: Elimina a causa para prevenir recorrências futuras
5. Implementação Efetiva das Ações Planejadas

Nesta fase, as ações corretivas são executadas conforme planejamento:
- Comunique claramente as mudanças a todos os envolvidos
- Proporcione treinamentos necessários quando houver novos procedimentos
- Monitore de perto a implementação, especialmente nas etapas iniciais
- Documente evidências concretas da implementação
- Ajuste o plano se surgirem obstáculos inesperados
6. Verificação Rigorosa da Eficácia
Esta etapa frequentemente negligenciada é crucial para fechar o ciclo de tratamento. É necessário confirmar que as ações implementadas realmente resolveram o problema de forma permanente.
Estratégias para verificação eficaz:
- Defina critérios objetivos de sucesso antes da implementação
- Estabeleça período adequado para observação (dependendo da frequência do processo)
- Colete evidências concretas que demonstrem se a ação foi eficaz
- Reinicie o ciclo de análise se as ações não produzirem os resultados esperados
💡 Dica para verificação de eficácia: A situação ideal seria a verificação ser conduzida por alguém que não participou diretamente da implementação das ações, garantindo uma avaliação imparcial.
O Tratamento Eficaz como Base da Melhoria Contínua
O processo estruturado de tratamento de não conformidades é complexo e exige conhecimento profundo dos processos da organização. Quando bem executado, pode transformar problemas em oportunidades reais de crescimento. Cada etapa – do registro detalhado à verificação rigorosa – contribui para fortalecer o sistema e prevenir recorrências.
O aprimoramento desse processo está ligado diretamente a maturidade do sistema da qualidade e das pessoas que participam dele. Então com o tempo melhores análises serão realizadas.
✧₊⁺ E você, qual etapa do tratamento de não conformidades considera mais desafiadora na sua empresa? Já implementou um processo estruturado? Compartilhe suas experiências nos comentários!